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É digno do ser humano o sentimento cético.

É digno do ser humano o sentimento cético.

O ser humano por si só é cético. Questionar, e logo em seguida duvidar da resposta obtida é traço marcante de nossa humanidade em questão.

            Observando o comportamento dos bebês, nota-se o quanto a curiosidade toma conta da vida destes pequenos. É quase um convite a regressão quando vemos uma criança recém-nascida se arriscar de forma tão intensa para satisfazer sua curiosidade. Diante dessa pequena consideração, acredito que o sentimento cético é pertencente a toda a humanidade e acompanha o indivíduo desde o seu nascimento, logo, o ceticismo é inato.

            Pequena observação leiga à parte, é inegável que a humanidade sempre esteve armada para o “ataque” a dúvida e para a dúvida de qualquer resposta. Este sentimento que move a humanidade é o responsável pelo progresso de nossa espécie e pela evolução a passos largos de nossa filosofia e ciência. Questionar e procurar lacunas em nossas próprias convicções é um passo nobre que progride e dignifica qualquer ser humano.

            Infelizmente, as pessoas parecem criar uma barreira “anti-ceticismo” em torno da religião. É como se ela fosse uma verdade absoluta, totalmente fora de indagações ou refutações. O simples fato de pensar em duvidar dos dogmas e conceitos teológicos é mal visto pelos religiosos, e interpretado como uma atitude rebelde e imoral. A religião toma um ponto de ignorância tão grande, que ela acaba se tornando imune a dúvida, sendo aceita como ponto final de qualquer argumentação (ou seria respostas prontas da pré-escola?!) entre pessoas que especulam por uma verdade.

            Em um debate informal (graças a este resolvi voltar a postar), com um amigo acadêmico em enfermagem e cristão, estávamos tendo uma discussão muito interessante sobre astronomia e saúde pública (o “bendito” ato médico também inclui na conversa). Durante muita discussão, nossa conversa seguiu em escala histórica regressiva, chegamos no ponto crucial da dúvida humana: o princípio do princípio. Geralmente, quando chego a este ponto faço uso de muita cautela e de assumir a minha ignorância perante a longa caminha astronômica, além, é claro, de sempre informar que a ciência ainda caminha a passos largos no fechamento das lacunas de nossa existência. Feito isso, não era de surpreender que meu amigo e opositor de discussão soltasse uma famosa pérola cristã: “Você não sabe a resposta? Então só pode ser Deus, afinal um projetista é a única resposta possível para esta questão.”.  Não preciso descrever a minha explicação irônica em resposta ao infeliz comentário de meu referido amigo e futuro enfermeiro. O ponto que gostaria de chegar é somente ilustrar a cena clássica de limitação do ceticismo. É como se a religião fosse uma explicação autoritária e bastantemente plausível (creio que nem explicação ela pode ser considerada) que dispensa qualquer questionamento.

            Usar deuses como resposta para qualquer pergunta é irracional. Qualquer coisa que seja mais complexa que um organismo ou forma sucessora está mais sujeita a explicação que qualquer organismo. Denominar nossa ignorância de deus só nos afasta cada vez mais de uma resposta racional e aceitável para o nosso intelecto. É por isso que o ceticismo nos coloca em posição de humanidade e não na extrema “neurose” da ignorância das lacunas ditas divinas.